QUEM VÊ CARA NÃO VÊ CAMINHÃO. CONFIRA O FILME #2!
PÉ NA ESTRADA, FÉ NA VIDA.
Conheça a inspiradora história de Fábio Ramos, caminhoneiro e cantor que vivenciou milagres antes de realizar o sonho de trabalhar nas estradas.
Se tem uma coisa que preenche o caminho dos caminhoneiros é a fé. Cada um com sua religião, todos seguem sempre repletos de esperança e peito aberto para tudo o que a estrada e a vida têm a oferecer.
Hoje, 25 de julho, é o Dia de São Cristóvão, conhecido como padroeiro dos caminhoneiros. Por isso, seguindo a nossa trilogia especial para o Dia do Caminhoneiro, é também o dia em que lançamos o segundo episódio da série: “Quem vê Cara não vê Caminhão.”
Nele, você vai conhecer a história de Fábio Ramos, caminhoneiro e cantor de 34 anos que se orgulha ao dizer que vive das suas paixões, mas que já enfrentou muita luta e passou por grandes milagres antes disso se tornar realidade.
Quem vê o Fábio hoje, rodando o Brasil de norte a sul enquanto transporta matérias-primas e grãos, além de soltar sua voz pelos palcos sempre que pode, não imagina que ele nasceu com paralisia infantil e teve dificuldades para falar e andar até os 10 anos de idade. Já na vida adulta, quando estava perto de realizar o sonho de se tornar caminhoneiro, ele chegou a perder a visão por conta de outras enfermidades.
Quer saber mais sobre a história desse homem imparável e cheio de fé? Confira abaixo a entrevista exclusiva que ele deu à IVECO e, em seguida, assista ao filme #2 da campanha.
Como surgiu o sonho de se tornar caminhoneiro? Você sempre quis desde a infância? Fale sobre a sua trajetória até decidir seguir a profissão.
Bom, eu cresci na roça, no interior de Minas Gerais, em uma cidadezinha chamada Bom Sucesso. Eu nasci prematuro com paralisia infantil e, até os meus 10 anos de idade, eu não podia andar e falar. Hoje, graças a Deus, eu estou curado e quem me vê pessoalmente nem acredita que já tive a doença um dia. Me lembro que naquela época, eu via meus irmãos pulando e andando pra lá e pra cá e eu não podia, então estava sempre brincando com carrinhos de madeira, mas ainda nem sonhava em ser caminhoneiro, afinal meu maior sonho era conseguir andar algum dia. Era uma época bastante sofrida financeiramente e meus pais nos criaram (eu e meus quatro irmãos) com muita dificuldade, lembro que não tinha nem energia elétrica.
Então o sonho de me tornar caminhoneiro surgiu nos anos seguintes, quando eu já tinha me curado da paralisia infantil. Minha principal inspiração foi meu tio Anísio, que sempre gostou de dirigir, e já trabalhou como motorista de ônibus para prefeitura e empresas. Eu ficava encantado observando ele dirigir. Meu pai era pastor e sempre fazíamos excursões com os membros da Igreja, e me lembro que eu sempre pedia para ir sentado na frente, perto do motorista, eu achava aquilo o máximo.
Meu tio sempre falava que queria muito ser caminhoneiro, mas acabou não tendo oportunidade de realizar esse sonho. Sinto que ele acabou passando esse sonho para mim e realizei por nós dois. Além do meu tio, eu sempre viajava com alguns amigos caminhoneiros nas férias, e eles também me inspiravam muito, e me deixavam pegar o volante às vezes para aprender.
Você já teve outras profissões antes de se tornar caminhoneiro? Como foi a sua trajetória profissional até, de fato, subir na boleia?
O percurso até eu me tornar caminhoneiro foi um tanto longo, como uma escadinha mesmo até chegar no caminhão. Comecei em uma empresa de ônibus, primeiro como auxiliar de viagens, que também é chamado de cobrador, em seguida fui para a bilheteria, depois para a área de manobra e, por fim, passei a ser motorista de ônibus.
A partir daí, o processo de eu passar para motorista de ônibus para caminhoneiro foi bem doloroso. Um ano depois de eu ter alcançado o objetivo de ser motorista de ônibus, com 23 anos de idade, eu fiquei cego dos dois olhos, pois tive toxoplasmose, glaucoma e derrame ocular. No primeiro dia, perdi 87% da visão e depois 96%.
“Os médicos disseram que eu teria que entregar minha carteira de motorista, pois a chance de eu voltar a enxergar era zero. Naquele momento, o sonho que eu tinha desde criança foi por água abaixo.”
Foi uma época muito difícil, de muita angústia, e tudo ficou ainda pior quando minha ex-mulher terminou comigo dizendo que não conseguiria cuidar de mim.
Antes de ir ao Detran, fui à empresa em que trabalhava e nunca vou me esquecer do que fizeram para me ajudar. O Décio, gerente, disse que não iria me demitir naquele momento e, ao invés disso, pediu para eu tirar as três férias que estavam vencidas. Então fiquei 90 dias em casa, com meus pais, e depois retornei à empresa, ainda sem enxergar. Lembro exatamente que, naquele dia, o encarregado de manobra, José, disse que eu era um homem de fé em Deus e que eu voltaria a enxergar sim.
Com muita bondade, o gerente fez algo que ninguém mais faria, ele decidiu me manter na empresa por mais 30 dias, como se ele estivesse pressentindo que eu voltaria a enxergar. Ele me deixou frequentar a empresa durante este mês inteiro, sem trabalhar, eu batia ponto e passava as horas de trabalho sentado na portaria. No final deste período, eu voltei a enxergar de um feito sobrenatural, enquanto cantava na igreja. Começou a sair sangue dos meus olhos, eu corri para o hospital e, ao chegar lá, minha visão estava de volta. O médico puxou meu prontuário na internet e não acreditou no que estava acontecendo, pois eu estava com a visão 100% recuperada. Voltei para a empresa na semana seguinte, e eles me deram um ônibus para trabalhar. Nessa época, inclusive, eu cheguei a trabalhar transportando funcionários da IVECO de Sete Lagoas para Belo Horizonte. Continuei como motorista de ônibus por cerca de quatro a cinco anos e, em 2017, decidi finalmente experimentar o caminhão, trabalhando com o transporte de madeira.
Para você, o que é ser caminhoneiro?
Ser caminhoneiro é ser apaixonado pelo que faz, pela vida na estrada. Não adianta querer apenas dirigir o caminhão, se não tiver paixão, você não consegue continuar na profissão, pois todo dia tem um desafio diferente. Um dia nunca é igual ao outro, todos os dias a gente aprende algo novo.
Às vezes a gente fica longe da família, pensa em voltar, tentar fazer outra coisa, mas não consegue, não dá. Seguimos em frente, porque a paixão é grande, é maior que a gente.
Quando estou em casa, depois de uma semana já fico louco para voltar para a estrada, então ser caminhoneiro é um caminho sem volta. Não é fácil, mas se você tiver paixão, nada vai te parar.
De 2017 pra cá, o que mudou? O que a vida na estrada vem te ensinando?
Quando comecei, eu era um “garotão” vidrado e apaixonado pelo caminhão. Ainda sou apaixonado, mas na estrada fui aprendendo a ter mais profissionalismo e, principalmente, a respeitar os limites da máquina.
É preciso ter medo da máquina. Enquanto você tiver medo, você se mantém. Se você perder o medo, você perde a sua vida.
Aprendi que nunca temos que dirigir com total autoconfiança, é preciso estar sempre atento e se prevenir de tudo e de todos. Percebo que nesses cinco anos eu cresci muito, ali no volante é uma verdadeira terapia com a gente mesmo, a gente fica sozinho com nossos pensamentos e ideias, vemos diversos acontecimentos, acidentes, e vamos crescendo.
Sabemos que, além das estradas, você também é cantor. Como dividir palco e estrada?
Comecei a cantar aos 17 anos e hoje tenho três CDs evangélicos gravados. Quando trabalhava com ônibus, era mais fácil conciliar com a agenda de eventos. Hoje, com a rotina mais incerta nas estradas, é mais complicado. O que eu tenho feito é sempre procurar me informar sobre bares, festas e até mesmo igrejas do destino para o qual estou indo fazer as entregas. Faço uma pesquisa e vou pessoalmente me apresentar e me colocar à disposição para cantar. Já deu certo algumas vezes.
E as letras das músicas? Tem alguma música de caminhão? Sua ou que você gosta de tocar?
Sim, tem muitas que falam de caminhão. Em breve vou lançar um EP nas plataformas digitais, e terão duas músicas que abordam a vida de caminhoneiro.
Uma delas é do Gerson Rufino, e se chama Senhor dos Caminhoneiros. Um trecho marcante é:
“Caminhão tá carregado, coração tá disparado, outra vez eu vou partir, sigo em frente acelerado, a saudade me implorando, me pedindo para não ir.”
A boleia acaba sendo um lugar de inspiração, já compus algumas canções dentro da cabine, e também acaba sendo um refúgio onde eu posso soltar a voz, coloco um playback e vou cantando, é uma terapia e ainda ajuda a quebrar o tédio.
Você acha que o caminhoneiro sofre algum tipo de preconceito? Você sente isso desde que está na estrada?
Sim, o preconceito existe de várias formas. Tem gente que acha que estamos atrapalhando os carros, por não andar na mesma velocidade que eles. Também já ouvi perguntas como: “Vocês caminhoneiros usam droga mesmo?”, então, sim, tem muito preconceito envolvido. Mas essas pessoas se esquecem de que tudo que eles têm em casa é graças aos caminhoneiros, então falta esse respeito e essa valorização. Até para ter um relacionamento sério existe preconceito, porque logo que descobrem sua profissão, tem gente que diz: “Ah, se você é caminhoneiro isso não vai funcionar.”
Quais são as principais dificuldades da profissão? E as principais recompensas?
Muitas vezes eu já cheguei na cidade da entrega numa sexta-feira e só pude descarregar o caminhão na segunda-feira. E daí já tive situações de pessoas reclamando de eu encostar o caminhão na cidade, sendo que eu só estava tentando fazer o meu trabalho.
Além disso, tem muitas condições precárias em muitas empresas. Hoje, eu trabalho em uma empresa que não estipula horário de chegada, é uma empresa tranquila, flexível, humana, eles prezam pela nossa qualidade de vida e descanso. Mas já trabalhei em empresas que eram desumanas, que faziam eu trabalhar sem parar.
Outra dificuldade é que, muitas vezes, a gente dorme em lugares que dão medo, sem saber se vamos acordar vivos, além da precariedade de alguns postos de gasolina.
Uma vez eu me senti mal e tive que praticamente abandonar a carreta para ir a um posto de saúde, porque o guarda não me deixou estacionar na cidade.
E sobre as recompensas, a gente passa perto de muitos lugares incríveis. No meu caso, vou desde o frio da região Sul, passando por Gramado, Santa Catarina, Paraná, até o calor do nordeste, nas mais belas praias. E daí, em outro momento, me vejo no Pantanal, na divisa de outro país. Se não fosse pela profissão, eu não teria chance de viajar assim, não teria dinheiro.
Não tem nada melhor que essa oportunidade de conhecer pessoas e lugares novos, a todo momento. Tudo aquilo que eu via somente pela TV, pelo programa do Fantástico num domingo à noite, agora eu vejo com meus próprios olhos.
Eu não preciso gastar um absurdo de dinheiro para ir à praia uma vez ao ano. Eu simplesmente encosto meu caminhão, que é a minha casa, e gasto cerca de 50 reais.
Tem lugares que eu chego e o tempo de descarga é meia hora e já tenho que partir para outro lugar, já em outros pode levar cinco dias, porque o cliente precisa liberar espaço, então dá para dar uma fugidinha nesses intervalos e aproveitar aqui e ali. Então o tempo sempre varia, é tudo imprevisível, cada dia um lugar diferente, e a distância se torna só um detalhe no mapa.
As pessoas costumam achar que existe um padrão para ser caminhoneiro, mas isso é na verdade um estereótipo, porque existem caminhoneiros das mais diversas faces e aparências. Você sente isso?
Sim, com certeza. As pessoas ficam surpresas quando falo que sou caminhoneiro.
Para a sociedade em geral, caminhoneiro tem que ser barbudo, desleixado e barrigudo. Quando chego em um evento, e falo que sou caminhoneiro, falam que não parece, que não tenho estilo de caminhoneiro. Como se eu tivesse que ser malcuidado para ser caminhoneiro! As pessoas rotulam isso, mas não estão na estrada para ver. Hoje em dia tem postos de gasolina com estrutura de academia, barbearia, e alguns têm até spa de beleza.
Hoje não estou bonito, raspei a cabeça, mas foi uma boa causa, é porque minha mãe está com câncer. Dia desses eu recebi um vídeo da minha irmã, em que a minha mãe teve sua cabeça raspada, e eu raspei como forma de homenageá-la. É muito difícil receber uma notícia dessa, na estrada, estando longe. É preciso muita força para seguir e continuar a missão. Nas horas vagas, tudo o que eu gosto é estar rodeado da família, sempre.
Como é a sua rotina como caminhoneiro? Costuma ficar muito tempo longe de casa? O que você transporta?
Eu fico cerca de 20 a 30 dias na estrada. É bastante tempo, mas a internet ajuda muito a matar a saudade hoje em dia, ainda bem. Eu rodo todo o Brasil, de norte a sul, transportando minério, matérias-primas para grandes usinas, além de soja, milho, arroz e feijão.
Você se considera um homem realizado?
Sim, sou um homem realizado pois vivo das minhas duas paixões, que é a estrada e a música. E isso pareceria impossível diante de tudo que vivi, se você pensar que eu mal podia falar e andar até os meus 10 anos, e depois fiquei sem enxergar.
Para essas duas profissões, é preciso muita paixão. Para a gente estar no mundo da música hoje, é um desafio enorme, a concorrência é grande, e é difícil viver da música, então quem se mantém se mantém muito por causa da paixão pela música. No caminhão, como eu disse, também é preciso muita paixão para seguir em frente, porque as lutas são diárias.
Confira agora o filme #2 da campanha “Quem vê cara não vê caminhão” e conheça um pouco mais sobre o Fábio Ramos e sua história de milagres.
Se você chegou até aqui, você provavelmente é caminhoneiro(a), conhece um(a) e/ou gosta muito de alguém que é. Compartilhe a campanha em suas redes sociais e nos ajude a espalhar essa mensagem tão importante para quem vive nas estradas.
Utilize a #hahstag #QuemVeCaraNaoveCaminhao e vamos juntos na luta por uma vida sem rótulos, preconceitos e estereótipos.
PARABÉNS, CAMINHONEIROS E CAMINHONEIRAS.
QUE NÃO NOS FALTE FÉ PARA SEGUIR SEMPRE EM FRENTE.
#AgenteNãoPara